O presidente do Conselho Regional de Química da 8ª Região (CRQ VIII), José George de Oliveira Santos, é um otimista e um entusiasta da Química em seu Estado, Sergipe. Na sua avaliação, Sergipe é a melhor combinação entre a vocação agropecuária histórica da cana-de-açúcar e a exploração do petróleo, turbinada pelas iniciativas da Petrobras no Estado. Oliveira Santos transita por duas áreas, a administração pública e a Química, e confia no apoio do Conselho Federal de Química para levar adiante o conselho sergipano, que possui 2.723 profissionais e 778 empresas registradas. A síntese da entrevista:
1) Como o senhor caracterizaria a Química em Sergipe? Quais setores são os mais representativos?
José George de Oliveira Santos – Sergipe é um Estado promissor para a Química. Nosso solo sempre ofereceu boas perspectivas para a indústria. No início tivemos a indústria relacionada à cana-de-açúcar e, nessa época, tínhamos o desenvolvimento de Sergipe baseado na exportação do açúcar. Tínhamos grandes engenhos, junto ao Estado de Alagoas, e éramos os maiores produtores de açúcar para exportação, vendido para a Europa. Esse foi um período que marcou bastante o desenvolvimento de Sergipe. Logo depois veio, para nossa sorte, a Petrobras, que se instalou aqui em Sergipe. Um detalhe interessante: nós, inclusive passamos a ter a Faculdade de Química, na área de Química Industrial, e esses alunos eram recrutados para o trabalho na Petrobras. Para ver como a empresa foi importante no desenvolvimento de Sergipe… Aqui ela instalou sua unidade de produção, embora todo refino tenha ficado na refinaria da Bahia. De certa forma, a exploração do petróleo invadiu o espaço tradicional da cana-de-açúcar, sendo que o petróleo gera muito mais riqueza. A Petrobras instalou cerca de 20 plataformas no litoral de Sergipe para exploração de petróleo e de gás, isso deu uma alavancada em Sergipe. Hoje devemos estar em terceiro lugar no Nordeste entre os produtores de petróleo. Foi um marco, pois a partir daí se fez a Universidade Federal de Sergipe (UFS), por obra do economista José Aloísio de Campos. Consequentemente o Estado se desenvolveu com muitos profissionais motivados pela vinda da Petrobras. O solo de Sergipe é rico em minerais, temos esse destaque. Campos criou ainda o Conselho Industrial do Sergipe e aí, através desse trabalho, houve um planejamento de exploração dos recursos naturais. Essas matérias-primas incentivaram também a instalação da fábrica de fertilizantes, a Fafen. Junto com outra, instalada na Bahia, elas se destacam entre as grandes do continente americano. Infelizmente, é bom que se frise, nós passamos por uma fase muito difícil hoje. Nosso país teve uma fase áurea mas, logo a seguir, passamos para uma fase difícil. Em vez de darmos uma alavancada para séculos e mais séculos nós estamos em uma situação complicada, pois a Petrobras fechou algumas unidades no Estado. A Fafen teve produção reduzida e sofre risco de fechamento. As autoridades de Sergipe lutam para que ela seja retomada em sua plenitude. Sou otimista, não podemos apenas nos lamentar. Tivemos desenvolvimento, avançamos e mais tarde sofremos. Vamos torcer que após o coronavírus, que nos ataca em todo lugar, consigamos superar isso, com fé em Deus. Ele é brasileiro e é o único que pode acabar com esse coronavírus. Vamos aguardar que a ciência, como sempre, produza a vacina que venha a eliminá-lo.
2) E quanto à atuação do CRQ VIII? Qual o maior desafio?
José George de Oliveira Santos – Assumi um conselho em péssimas condições. O CFQ sabe da situação. Em resumo, não tínhamos veículos para a fiscalização. Sabemos que a tarefa do conselho não se resume a penalizar o empresário ou o profissional. É também dar o suporte, seja na forma de fiscalização, seja na promoção de seminários. O CFQ, ciente do nosso problema, liberou recursos e nós fizemos a licitação para a aquisição de um veículo de primeira linha para que possamos fazer o nosso trabalho. Encontramos o conselho com um déficit importante para com o federal. Conversamos com o presidente do CFQ, José de Ribamar Oliveira Filho, e o encontramos sensível a todos os presidentes de regionais. Ele trouxe os questionamentos e nós apresentamos nossa proposta. Estamos pagando essa dívida. Temos dificuldades também com prestações de contas anteriores de 2009 a 2017, foram rejeitadas e estavam paradas no CRQ VIII. Contratamos um contador e avançamos 80%, mas ainda faltam 20%. O que seria isso? É o planejamento, uma administração não para. Estamos lutando também pela aquisição de uma sede, o que foi atrapalhado pela situação do coronavírus. Creio que neste ano, ou no próximo, estaremos com essa sede graças ao auxílio do CFQ.
3) Como se deu o enfrentamento da pandemia de coronavírus no setor químico em Sergipe?
José George de Oliveira Santos – Diante dessas dificuldades, trabalhamos. Quando fizemos planejamento e arrumamos a casa, em 2020, seria o ano de a gente usufruir do trabalho planejado. Infelizmente o coronavírus derrubou receitas das empresas, prejudicou os profissionais e tudo isso acabou protelado. O coronavirus nos coloca a todos em situação dificílima. Vamos ver se a partir de setembro poderemos ter boas perspectivas.
4) Como descreveria a sua experiência pessoal na Química? E dentro do CRQ?
José George de Oliveira Santos – Me formei na Faculdade de Química do Estado de Sergipe, engenheiro químico. Na época não existia o curso de Engenharia Química, mas como tínhamos as disciplinas que mais tarde passaram a ser lecionadas no curso de Engenharia Química, então nós temos nosso curso de Química Industrial com habilitações em Engenharia Química. Eu fiz estágio na Companhia Estadual de Saneamento Básico (Deso), no Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe e na refinaria Landulpho Alves, na Bahia. Aqui em Sergipe, ironicamente, eu não fui pra Petrobras (risos). Fiquei na Secretaria da Educação, pois eles precisavam de um químico para tratamento de água. Precisavam de apoio para um programa de implantação de piscinas. O secretário da época dava grande ênfase ao desporto e foi criado o parque aquático Batistão, que tem uma piscina olímpica, além de três escolas da rede pública que tinham piscinas e não tinham profissional responsável. O secretário achou que eu era o profissional que podia desempenhar esse trabalho. Fui diretor de órgão, administrador do parque aquático, diretor-administrativo, secretário de Estado de Esporte e Lazer. Assim, construí uma carreira unindo a Química e a administração pública, é onde me realizo bastante.
5) E qual é a sua trajetória no CRQ VIII?
José George de Oliveira Santos – O CRQ VIII, foi fundado pelo doutor Abias Machado, que é conselheiro federal, que foi o primeiro presidente. Na época, éramos conselheiros. Isso foi em 26 de novembro de 1981, a criação do conselho. Estive afastado por um período. Estivemos na Secretaria de Estado da Educação e tivemos uma atividade na área da Química, dando sempre apoio ao CRQ VIII aos colegas que faziam parte do conselho. Em 2017 eu assumi, fui escolhido por unanimidade. Estou fazendo esse trabalho e entendo que só funciona para quem tem objetividade, está disposto… Isso não falta da minha parte. Com apoio dos conselheiros, dos colegas, conquistamos o respaldo do setor empresarial e dos profissionais. Essa é a panorâmica aqui em Sergipe e gosto de frisar sempre que avançamos com o apoio do Conselho Federal, do presidente José de Ribamar.
6) Passada a pandemia, o que virá? Há motivos para otimismo?
José George de Oliveira Santos – Estamos rezando que a pandemia nos deixe logo. Há um detalhe: estamos baqueados. Recorremos ao CFQ, que prontamente editou uma resolução normativa que garante esse apoio e nos permita reoxigenar e voltar ao nosso planejamento de 2020.
7) Qual mensagem o senhor deixaria para os estudantes e profissionais de Química de Sergipe e do país?
José George de Oliveira Santos – Sou bastante otimista, eu me formei com bastante sacrifício e não poderia passar pra nova geração a mensagem de que não devem se formar em Química, muito pelo contrário! Um Estado como o nosso, onde temos a Petrobras, indústrias que exploram nossas riquezas minerais, é uma questão apenas de passarmos essa fase e, imediatamente, retomarmos esse poder. É um Estado pequeno mas ousado, temos matérias-primas importantes… Recentemente foi descoberta uma grande jazida de gás natural. Com essa produção que se desenha, vamos ingressar também como terceiro maior produtor de gás do Brasil. Aos estudantes eu digo sempre: esperança e estudo. Se gostam da Química, vão a fundo. Sergipe tem uma História que envolve grandes profissionais da Química e o futuro é bastante promissor.
Fonte: CFQ